PU ou Silicone?
Qual selante devo usar em minha fachada?
Olá pessoal! Esse artigo do nosso blog promete ser bem polêmico. Afinal de contas, estamos diante de uma dúvida corriqueira e que impacta de forma direta para que um problema de infiltração precoce apareça em uma fachada e consequentemente obrigue ao condomínio a realizar uma manutenção corretiva indesejada.
E aí? Na sua fachada, você usa selante de PU ou Silicone?
Bom, para iniciar a polêmica, se fosse a minha fachada, sem dúvida alguma o selante de silicone já ganharia pontos e estarei um passo à frente do PU.
Mas, precisamos entender primeiramente que PU ou Silicone são a matéria-prima principal do selante, que define sua base. É claro que a escolha de um ou outro tem impactos diretos, mas não é o único parâmetro. Considerando que o selante ficará exposto, sem dúvida, o tipo de matéria-prima a ser escolhido, sem dúvida, deve ser a base de silicone.
Qualquer silicone? Não!!! Definitivamente. Vamos entender sobre isso adiante.
IMPACTO DOS RAIOS UV NA DURABILIDADE DOS SELANTES
Mas, por que escolher silicone? Bom, vamos agora nos concentrar em entender o porquê os selantes a base de silicone recebem aqui a minha escolha para aplicações em fachada.
O polímero silicone não possui carbono em sua fórmula, portanto, a cadeira polimérica de silicone possui apenas Si (silício) e O2 (oxigênio). A ligação química Si-O2 é muito estável e para conseguir rompê-la é necessária uma energia muito grande, que nem os raios ultravioletas que atingem nossa atmosfera conseguem alcançar.
ESTRATÉGIAS DE MELHORIA DA RESISTÊNCIA DOS SELANTES AO INTEMPERISMO:
Já o poliuretano é um polímero que é sintetizado a partir da reação de um poliol e isocianato. Por ter ligações carbônicas (C-C), podemos dizer que são moléculas orgânicas. A ligação entre dois carbonos é muito estável também, mas, pode ser rompida pela ação da radiação ultravioleta.
A energia dos raios UV provenientes do sol pode chegar a nossa atmosfera em até 400 kJ/mol (quilo-joules por mol) e é o suficiente para quebrar a ligação carbônica, mas, não a ligação Si-O2 conforme figura 1.
Figura 1: Energia de ligação entre algumas moléculas:
Fonte: Solomons, 2012
Uma prova de que isso é verdade é a nossa pele. Também somos carbono! Somos orgânicos. Temos bilhões e bilhões de carbonos ligados em nossa pele. Quando nos expomos por muito tempo durante o sol, nossa pele se queima. Essas queimaduras são ligações quebradas que deterioram nossa pele e a ressecam. Qualquer coincidência com os Pu’s não é mera coincidência. Aposto que você já viu algo como a figura 2, não viu?
Figura 2: Selante de Poliuretano deteriorado
Fonte: Próprio Autor
Um teste de envelhecimento acelerado pode ser feito para comprovar isso, e na figura 3, um selante de poliuretano e um selante de silicone foram expostos aos raios UVA e UVB que são os que atingem nossa atmosfera para que se possa comparar os resultados. Após 2.500 horas de exposição, utilizando a metodologia de ensaio ASTM G 154/16, podemos ver que o selante silicone não teve qualquer alteração estrutural visível, mas, o selante de poliuretano se degradou.
Figura 3: Teste de Envelhecimento acelerado ASTM G 154: Silicone x PU
Fonte: Próprio Autor
Existem selantes de poliuretano que são modificados para suportar mais tempo aos raios UV. Várias estratégias podem ser utilizadas:
– Utilizar um polímero diferente do poliuretano tradicional, chamado de híbrido, que seria um poliéter silanizado;
– Incluir dissipadores de energia;
– Incluir moléculas aromáticas capazes de “armazenar” energia.
No entanto, todas as estratégias podem aumentar a vida útil da fórmula do selante, mas, ainda assim não superam a questão natural do silicone de suportar os raios ultravioletas. Além disso, o custo de um bom selante híbrido não costuma ser baixo.
Bom, aqui a gente finaliza sobre a escolha da matéria-prima. Já entendemos que devemos escolher silicone para este caso. Mas, agora, vamos entender se pode usar aquele silicone baratinho do depósito ou precisa ser um selante de silicone especial.
Existem várias demandas em fachada em que selantes podem ser utilizados:
- Juntas de dilatação horizontal;
- Juntas de dilatação vertical;
- Juntas estruturais;
- Juntas de encontro alvenaria/contramarco;
- Junta de vedação de peitoril;
- Vedação de vidro/alumínio da esquadria;
- Juntas de dessolidarização;
- Rejuntamento de substratos de fachada ventilada;
- Rejuntamento de substratos de fachada aderida;
- Outras aplicações expostas ao tempo.
A aplicação vai definir o desempenho que se espera do selante se silicone e a partir daí deve-se escolher o fabricante e o modelo a ser utilizado. É bem verdade que ainda não temos uma norma brasileira para classificar os selantes por aplicação, por desempenho ou por qualquer característica. Mas, em breve, no ano de 2021, a NBR ISO 11.600 deve entrar em vigor e dar uma padronizada nos selantes que estão no mercado nacional.
A nova norma de selantes no Brasil vai clarificar o local de aplicação e as classes de desempenho que podem ser alcançadas de forma a suportar os profissionais em relação ao tipo de produto que ele deve usar para sua demanda.
No entanto, atualmente, por falta de uma normatização, não temos ainda esse costume, de preocupar com quais propriedades queremos do selante quando precisamos adquirir.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NA ESCOLHA DO SELANTE:
Portanto, aqui listo algumas propriedades e ensaios de normas internacionais que considero importantes e devem ser observadas ANTES de adquirir pelo preço. Portanto, procure, primeiramente definir o mínimo de desempenho aceito para a sua aplicação de acordo com suas propriedades:
- Capacidade de Movimentação (ASTM C 719): É a capacidade de o selante alongar considerando determinada área sem sofrer falha coesiva (rompimento do material) ou falha adesiva. Quanto maior o %, maior é a deformação elástica que o selante pode ter sem perder sua memória elástica.
- Módulo de Young (ASTM C 1135): Também chamado de módulo de elasticidade sob tração, é uma medida da razão entre a tensão aplicada e a deformação ocorrida no material antes da deformação plástica ou da ruptura.
- Dureza Shore A (ASTM D 2240): A dureza do material está relacionada à facilidade ou dificuldade de deformar a sua superfície. A escala SHORE A mede a dureza de alguns materiais. Cada tipo de material tem uma escala de dureza condizente às suas características. No entanto, muita gente escolhe de forma errada o selante somente por essa propriedade. Podemos ter selantes com a mesma dureza Shore A e com desempenho muito diferentes, portanto, ATENÇÃO!
- Resistência ao intemperismo (ASTM G 154): A durabilidade do selante pode ser avaliada pela exposição ao intemperismo natural ou sob condições de exposição em laboratório, sob a ação de ciclos de radiação ultravioleta, temperatura e umidade. É possível estimar o intemperismo natural, de forma acelerada. É necessário um equipamento com sistemas de radiação, temperatura e condensação.
- Manchamento do substrato (ASTM C 1248): Muita gente acredita que só silicones podem manchar pedras. É um engano comum. Existem vários componentes que podem ser adicionados à fórmula de um PU com capacidade de manchamento em substratos porosos. Portanto, o teste é necessário sempre que for selecionar um selante que irá vedar juntas de substratos porosos.
Bom, nem sempre você precisa observar TODOS os itens acima para a sua aplicação, mas por exemplo, caso vá utilizar um selante em uma junta de dilatação da fachada é interessante calcular o quanto o selante deve suportar a deformação do revestimento, além da sua resistência ao intemperismo. Portanto, esses ensaios devem estar contidos na ficha técnica do selante que irá adquirir. Só assim o engenheiro conseguirá estimar a vida útil de projeto e prever o tempo de manutenção preventiva e corretiva para o selante escolhido.
Ficou alguma dúvida?
Entre em contato conosco!
Um abraço,
Mestre Gui
Referências: SOLOMONS, T. W. Graham; FRYHLE, Craig B.. Organic chemistry, 10th ed, 2012
O corpo técnico da Dallminas se coloca a disposição para qualquer esclarecimento de dúvidas relativas aos produtos discutidos aqui. |